terça-feira, 26 de abril de 2011

Psicólogos receitam filmes para funções terapêuticas



São Paulo (AE) - Durante o sono, no silêncio e na penumbra do quarto, as imagens do inconsciente são projetadas na mente das pessoas. Na poltrona do cinema, com as luzes apagadas, o que está projetado na tela grande pode ser visto como o sonho de outro, mas traz situações, frases e momentos que tocam no inconsciente de quem assiste. Partindo dessa premissa, e dessa subjetiva ligação, uma modalidade chamada cinematerapia, que já se tornou bastante popular nos Estados Unidos, tema inclusive de várias pesquisas acadêmicas, começa a ganhar adeptos no Brasil.

A idéia é utilizar os filmes como um recurso a mais durante o trabalho terapêutico. Um tipo de lição de casa dada pelo psicólogo para o paciente que pode auxiliar a trazer à tona emoções escondidas e situações mal-resolvidas e até mesmo dar um empurrãozinho para ajudar a pessoa a ter um outro olhar sobre os próprios conflitos.

"A cinematerapia tem um poder educativo, pois amplia a percepção, aprofunda a compreensão, permitindo a elaboração de um pensamento crítico. O psicólogo seleciona um filme indicado para aquele caso, a pessoa assiste e depois discute com o terapeuta as semelhanças que percebeu entre seus próprios conflitos e angústias com a trama. Juntos vão aclarando o que estava nebuloso", explica a psicóloga Maria Luiza Curti, uma das adeptas da prática no Brasil e autora da explicação que compara a projeção do inconsciente no sono com as cenas de um filme no cinema. "Quando mergulhamos na arte, nosso inconsciente costuma ser despertado. Seja pintando um quadro, desenhando, esculpindo ou assistindo a um filme."

A explicação desse poder da arte não é nova. Na Grécia Antiga, o filósofo Aristóteles registrou em sua obra "Poética" um processo que identificou nas tragédias. Foi ele quem chamou de catarse a descarga emocional que a experiência estética propicia, por exemplo, quando o espectador acompanha e sente como suas as aventuras e sofrimentos de um protagonista em uma peça.

ORIGEM - No caso em questão, a peça foi substituída pelo filme. De acordo com a psicóloga americana Birgit Wolz, da Universidade John F. Kennedy, na Califórnia, e uma das pioneiras a sistematizar a técnica, os primeiros estudos sobre cinematerapia apareceram há cerca de dez anos. Ela lembra, no entanto, que contos, histórias e filmes há tempos são usados como recursos terapêuticos. "Porém, agora a comunidade acadêmica começa a se interessar mais por eles, temos mais artigos, trabalhos publicados e cursos sendo oferecidos para os profissionais nos Estados Unidos."

Segundo ela, existem três maneiras de se utilizar um filme como recurso em consultório. "Há três níveis que podem ser trabalhados com os filmes. Um deles é focando na reação que cada pessoa tem a determinado filme, o que pode ser uma janela para o inconsciente. Outra possibilidade é apresentar filmes que de algum modo possam ser exemplos para a pessoa, seja literalmente ou por meio de metáforas. A terceira opção é explorar o lado catártico, que ajuda na liberação de emoções reprimidas", afirma a psicóloga. Além disso, a técnica ganhou o público e as livrarias com o lançamento do livro "Cinematerapia para a Alma - Um Guia de Filmes para Todos os Momentos da Vida" (Editora Verus, 224 págs.), das americanas Nancy Peske e Beverly West. Elaborado como um guia, o livro lista vários filmes, relacionando-os com os momentos para os quais eles seriam mais apropriados. O livro é uma simplificação da técnica usada pela maioria dos psicólogos, que realçam que filmes podem ser bastante úteis, mas sozinhos não resolvem qualquer problema.

Na escolha do repertório, as autoras e os psicólogos parecem estar mais de acordo. Dentro de um leque bem amplo de opções, as grandes produções, principalmente as hollywoodianas, são as mais indicadas. Para o psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira, professor do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), os filmes de entretenimento podem ser mais úteis para esses fins.

"Mesmo o filme mais simples apresenta situações do drama humano. No cinema de entretenimento, as pessoas se identificam com as situações. Nesse sentido, Hollywood foi mestre em industrializar esse resultado", diz. "No filme de entretenimento, a pessoa vai desarmada, distraída, aí o lado de identificação pega mais. Já quando a pessoa assiste a um filme pensando em outro nível, reparando na linguagem, na atuação, na direção, no conteúdo, enfim, com um olhar mais analítico, essa situação não tem tanta função psicoterápica", explica o psicólogo.

Já a principal explicação para escolher um filme como recurso, e não um livro ou uma peça de teatro, é bem pragmática. "Percebemos que o cinema tem um alcance muito maior. É mais acessível para as pessoas. Precisa de menos tempo para ser visto e a pessoa se solta mais, pelo caráter de entretenimento", conta Birgit.

FILMES QUE AJUDAM RESOLVER CONFLITOS PSICOLÓGICOS


• *RELAÇÕES: Em "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (Jean Pierre-Jeunet, 2001), Amélie cresce isolada dos outros pelos pais. Sozinha, ela cria um rico mundo interior e tenta fazer os outros felizes. Indicado para quem está hesitante em fazer novas relações e amizades.

• *RENOVAÇÃO: Para quem está se sentindo pessimista em relação ao futuro, "Billy Elliot" (Stephen Daldry, 2000) conta a história de um garoto que foge das aulas de boxe para aprender balé. Enfrenta a raiva e o desprezo da família e se torna símbolo de mudança para todos.

• *MEDO: "Confissões de Schmidt" (Alexander Payne, 2002) é indicado para quem acha que está faltando um sentido na vida. Ao mostrar a viagem de um viúvo aposentado para o casamento da filha, pode fazer que cada um pense mais na própria vida.

*essas 3 primeiras partes foram postadas aqui: http://djlucianohipnologo.blogspot.com/2010/09/psicologia-e-cinema_24.html





POSSIBILIDADES: A história da pintora mexicana Frida Khalo, "Frida" (Julie Taymor, 2002), pode ajudar quem pensa que tem escolhas limitadas por sexo, corpo, experiência ou coração partido. A trajetória da pintora serve de exemplo para aqueles que precisam se reerguer.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DESCOBERTAS: Para estimular a consciência de que uma pessoa determinada pode fazer muito, "Erin Brockovich" (Steven Soderbergh, 2000) é um bom exemplo. O filme conta a história de uma mãe solteira que luta contra uma usina poluidora na Califórnia.




















ATITUDE: Aceitar responsabilidades pessoais e tomar decisões por conta própria para melhorar a própria vida. Se esse é o caso, um dos filmes indicados é "Minority Report" (Steven Spielberg, 2002), história futurista de um detetive que impede crimes que vão acontecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário